Comentando os comentadores

Confesso que é raro ver, mas que esta semana até vi um bocadinho (não muito para não fartar) e que uma vez mais fico com a sensação que neste país há certas coisas que ultrapassam os limites do surreal, mas que aparentemente toda a gente acha normal e que muitos há que até gostam.

Refiro-me aos programas sobre "futebol"; aqui o futebol está entre aspas, porque o tema é claramente um um subterfúgio para (normalmente) três marretas estarem entre uma hora e uma hora e meia a discutir o sexo dos anjos. A verdade é que vendo um bocadinho (não muito para não fartar), podemos constatar que passam nestes programas mais lances de faltas e/ou supostas faltas a meio campo que golos.

É extraordinário!

Cada um à sua maneira, marca o panorama televisivo e como aqui n'O Banco gostamos de ser eclécticos, vá de malhar neles todos. Um por um, que isto ainda é uma coisa organizada.

O Dia Seguinte: Começo por aquele que é para mim o ex-libris da coisa. Ao pé destes, todos os outros são uns meninos. Conseguem três coisas fantásticas que não é fácil e que não se vê em mais lado nenhum:

i) falam uns para os outros de temas completamente dispares como se estivessem a dialogar (é impressionante e verdadeiramente difícil);

ii) falam uns para os outros, sobre o assunto que "você-sabe-muito-bem-do-que-estou-a-falar-e-com-quem-é-que-ele-esteve", ao que o outro responde "sei-e-você-também-sabe-que-ele-sabe-muito-bem-porquê" como se todos soubéssemos de que se trata;

iii) Iniciam muitas vezes a análise com o "eu não vi o jogo, mas..." e depois seguem por ali fora com uma análise muito douta sobre a partida.

É claro que como em tudo, são as pessoas que marcam a diferença e também aqui, os paineleiros são o sal da coisa:

SCP) Dias Ferreira, como o adjectivar? Ah já sei. Um cretino! Não falo sequer do episódio do sacar o bife do meio dos dentes em directo, refiro-me objectivamente às suas intervenções. Parece que está constantemente vai-não-vai para andar à pêra e sabe muita coisa que vocês sabem bem porquê. Já foi atirado por uma escada abaixo e actualmente é um grande defensor do Paulo Bento.

FCP) Guilherme Aguiar, FCP old school. O homem de mão do Pinto da Costa, que escreveu os regulamentos que prevêem que um clube só possa ser culpado de corrupção se houver prova de causa-efeito na arbitragem propriamente dita. Curiosamente o seu clube esteve já envolvido num processo de corrupção e safou-se à conta da artimanha. Aparenta muitas vezes ser um cordeiro e está tudo dito

SLB) Sílvio Cervan, mais um gajo do PP que é do Benfica, este com a particularidade de ser muito, mas muito estúpido. Os óculos fundo de garrafa conferem-lhe o super-poder de ver o que mais ninguém vê e é sistematicamente papado pelas duas "ratas velhas" que o acompanham no programa.

Trio de ataque: Queria ser O Dia Seguinte, mas não consegue. Começa logo por passar à terça-feira, o que dá aquele ar de requentado que dá logo vontade de mudar o canal. Os comentadores são assim para o fracote e às vezes levam lá uns convidados para eles lhe fazerem umas perguntas que pretendem inteligentes.

SLB) António Pedro Vasconcelos, acho que o gajo percebe menos de bola do que de cinema; lembra-me aqueles gajos que calham sempre na bancada ao nosso lado e que passam o jogo inteiro a confundir o David Luiz com o Ramires e que não sabem uma única regra da competição a que diz respeito o jogo que estão a ver.

SCP) Oliveira e Costa, outro que tal. Chiça! É mais alinhado que uma parada militar e não diz nada de jeito.

FCP) Rui Moreira, FCP new-school, quer passar a imagem que é adepto de um clube com fair-play, cordial e simpático. Diz assim umas coisas mais ou menos e por ser de facto um gajo educado e tal, nem dá vontade de lhe afiambrar três ou quatro lamparinas nas fuças.

Este programa tem a particularidade de pôr os comentadores a dizerem qual a equipa que eles escolheriam para o próximo jogo, onde vemos que a criatividade não tem limites.

Tempo Extra: Rui Santos é o one-man-show! Não sei como é que a SIC não dispensou o side-show-Bob que o acompanha e não deixa o artista filosofar à vontade.

Também já levou umas cachaporradas no focinho e consegue passar uma hora e meia a falar sozinho, sempre entusiasmado e estou convicto que está perfeitamente convencido de que o que diz faz sentido. É um daqueles cromos difíceis de sair e tem a mania que vai conseguir pôr os árbitros a decidir com recurso à ajuda de imagens na televisão. Wake up and smell the coffee!

Prolongamento: Este nunca vi, mas faço como o Dias Ferreira e comento na mesma! Tem lá o Pôncio que é FCP old-old-school, deve ser o único comentador que ainda se lembra (por ter visto) do Calabote e têm um baú com recortes de jornais que vai até 1835! Estou convencido que quando ele começou a guardar essas notícias, tinha por objectivo 50 anos mais tarde chatear a malta com aquilo. Tem também o Seara, que supostamente é uma sumidade porque ajudou a escrever uma merda tipo a lei de bases do desporto ou lá que raio foi, mas que parece que anda sempre aos papéis, excepto quando se arma em mau! Finalmente está lá também o Eduardo Barroso, que é perito em nunca ver os jogos porque está na Tailândia, mas como o filho lhe manda umas sms o gajo bitaita sobre tudo e mais alguma coisa.

Zona Mista: Passa sábado à noite e ao domingo de manhã na RTP N, portanto muita pouca gente já viu isto. Tem lá o Bruno Prata que é FCP new-old-school, ou seja, tem um look jovem e cool, mas de certeza que tem uma foto do Jorge Nuno na carteira e o João Gobern, que é um daqueles generalistas-especialistas, que sabe falar e comentar todos os assuntos.

Curiosamente e se calhar por ser quando é este é dos poucos onde até nem passam metade do tempo a falar de árbitros. Não quer dizer que falem de futebol propriamente dito, é mais dirigentes e tal.

Pontapé de Saída: Também com um formato diferente, tem lá o JVP e o Luís Freitas Lobo e aquilo até se come (não muito para não fartar). Claro que aquilo não tem aplicação na prática.

Lugar Cativo: com Fernando Correia. Menção especial a um programa de rádio que passa na televisão. Tem no entanto mais piada à tarde, quando não passa na tv e vai lá um cromo que é o Carlos Dolbeth Fazem o programa como se fosse uma conversa de café e é espectacular a quantidade de não-informações que passam. Baseia-se no diz-que-diz-se e no acho-que. Para mim a sorte do Dolbeth é aquilo passar à hora que passa e na Rádio que passa, se não já lhe tinha acontecido como ao Dias Ferreira e ao Rui Santos.